Veja.com: Cirurgia bariátrica – quem deve fazer (e quem deve ficar bem longe dela)

A indicação de cirurgias para o tratamento da obesidade continua crescendo rapidamente em todo o mundo. Só no Brasil foram quase 100 000 operações no último ano e esse número deve aumentar muito em 2016. O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou neste ano um novo conjunto de regras para indicação desses procedimentos, estendendo o número de condições clínicas que autorizam sua utilização em uma faixa de peso menor. Essas faixas de peso estão padronizadas pelo índice de massa corporal (IMC). O cálculo não é complicado. É só dividir o peso (em quilos) pela altura (em metros). Esse resultado então é dividido novamente pela altura e chega-se assim ao IMC. Vamos usar como exemplo uma mulher que podemos chamar de Maria, com 1,60 metro de altura e 90 quilos de peso. Noventa dividido por 1,60 é igual a 56,2, que, dividido novamente por 1,60, tem como resultado um IMC de 35,1.

Até o ano passado ela só seria candidata à cirurgia se tivesse associada à sua obesidade uma doença como diabetes ou hipertensão arterial. Pela nova resolução, se ela declarar-se vítima de estigmatização social, depressão, ovários policísticos, varizes nas pernas ou qualquer outra condição de uma lista de mais de vinte, a cirurgia já pode ser indicada.

E o que deve justificar o uso desse recurso extremo? Ele pode parecer um tratamento muito radical, mas radical também é o risco de quem está muito acima do peso. Da última vez que se tentou estimar quantos brasileiros morrem a cada ano em decorrência da obesidade, chegou-se ao alarmante número de 80 000 vítimas. Só para efeito de comparação, o câncer de mama mata 14 000.

Quando então operar? A decisão médica precisa estar baseada na comparação entre o risco da cirurgia e o benefício que ela pode trazer para o candidato. Se a nossa paciente Maria, com seu IMC de 35, tiver também um diabetes, ela tende a lucrar muito mais com a cirurgia do que sua vizinha Joana, com os mesmos de 35 de IMC e algumas varizes nas pernas. O próprio IMC, aliás, tem sido cada vez mais questionado. Se Maria tiver, além do seu diabetes, uma hipertensão arterial, a cirurgia para ela pode ser mais necessária que para sua prima Lúcia, com 40 de IMC mas com uma taxa de glicose de 80 e uma pressão de 12 por 8. É por isso que muitos têm preferido chamar essas cirurgias de metabólicas, em vez de bariátricas. A melhora do metabolismo pode ser mais importante do que os quilos perdidos. Nos casos de obesidade com menos doenças associadas, os riscos inerentes à operação podem ameaçar o sucesso do tratamento. Apesar de vermos complicações graves com frequência cada vez menor, problemas relacionados com deficiências de alguns nutrientes podem ocorrer se não for feita uma reposição adequada.

E como são feitas essas cirurgias? Por terem nomes oficiais bastante complicados, as duas técnicas principais são mais conhecidas pelo seu nome em inglês: bypass gástrico (gastroplastia redutora com reconstituição em Y de Roux) e sleeve gastrectomy (gastrectomia vertical).

No bypass se faz uma redução no tamanho do estômago combinada com um desvio de uma parte do intestino. Além de comer menos, o paciente tem diminuída a absorção de alimentos. Por agir através desses dois mecanismos, a perda de peso tende a ser um pouco maior que a obtida através do sleeve, que ganhou esse nome por causa do formato que adquire a cavidade onde os alimentos são recebidos, semelhante a uma manga de camisa. As vantagens do sleeve, que acabou de assumir o primeiro lugar na preferência de muitos cirurgiões, incluem maior facilidade técnica e menos problemas com absorção de nutrientes e medicamentos.

As cirurgias bariátricas, quando bem indicadas e executadas por uma equipe treinada, podem ser uma excelente opção para o tratamento da obesidade grave e de suas complicações. Sua utilização com finalidade estética é, no entanto, descabida e condenável.

Fonte: Veja.com