As pessoas são obesas porque querem?
Quando se trata de sobrepeso (IMC<30kg/m²) isso até pode ter um fundo de verdade, pois muitos estão nessa condição porque não querem renunciar a algumas calorias extras na sua rotina.
Entretanto, quando pensamos na obesidade e, principalmente, na obesidade mórbida, essa situação é diferente, pois existe um complexo mecanismo na regulação da fome versus saciedade, que se encontra alterado devido a diversos fatores.
Então, excetuando aqueles pacientes portadores de obesidade que não querem se tratar por opção própria (assim como um fumante que não quer tratar-se para cessar o tabagismo), os demais não são portadores de obesidade porque querem. Mesmo que queiram, raramente conseguirão reverter sozinhos esse quadro de obesidade.
O acompanhamento psicológico é realmente importante?
A conclusão de que pessoas são obesas porque querem é injusta e agrega uma forte pressão psicológica sobre eles. Aliás, muitos dos desvios comportamentais que interferem na evolução do quadro de obesidade estão diretamente ligados a questões psicoemocionais.
Como ressalta Dr. Pedro Garrido, psicólogo do nosso Instituto, “na área médica, nutricional e de psicologia há pesquisas que revelam resultados positivos no tratamento da obesidade por meio de remédios, dietas, exercícios e psicoterapia. Entretanto, considerando o paciente que sofre de obesidade severa (obesidade grau III), a redução do peso corporal para níveis normais é raramente atingível na prática”, afirma Garrido. Ou seja, os tratamentos clínicos para obesidade severa até podem oferecer bons resultados individuais, porém, para a grande maioria, o que se experimenta na prática é desanimador a médio e longo prazo. Pesquisas mostram que o tratamento cirúrgico é mais eficiente do que os tratamentos clínicos na ajuda a esses pacientes. “Ainda assim, se não considerarmos fatores como a compulsão alimentar e o transtorno de ansiedade, associado à ingestão desequilibrada de alimentos, alguns pacientes podem obter resultados ruins mesmo com a ajuda da cirurgia”, completa ele.
A literatura especializada dá muito destaque aos casos de pacientes que voltam a ganhar peso (recidiva) após alguns anos da realização da gastroplastia. Vale ressaltar, no entanto, que esse fenômeno está comumente correlacionado a questões psicológicas que prejudicam a promoção do autocuidado.
Além da preocupação com o reganho de peso, alguns pacientes podem apresentar outros transtornos psicológicos no pós-operatório como problemas no controle da ansiedade e excitabilidade. O que se observa clinicamente, para alguns destes casos, é o paciente vivenciar um estado pré-operatório de ansiedade e exagero alimentar, que pode então mudar para outros possíveis transtornos pós-operatórios que já não se encontram mais na questão alimentar, mas sim em excessos que compensem de outra maneira seu estado psicológico.
Eis, portanto, a relevância do psicólogo na equipe multidisciplinar de cirurgia bariátrica: “num primeiro momento o profissional identifica o nível de vulnerabilidade psíquica do paciente no que diz respeito a se reencontrar com estados psicológicos preocupantes, capazes de promover prejuízos significativos físico-mentais na sua evolução pós cirúrgica; e a partir de então, para aqueles que necessitam de maior cuidado, institui-se tratamento psicológico no pré e pós-operatório”, pondera Garrido.
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